domingo, 31 de janeiro de 2010

Caros Vizinhos...

"A diferença entre ter sexo e saber fazê-lo é mais ou menos a mesma entre apanhar o metro do Intendente para o Rossio e atravessar o Atlântico num voo de longo curso em classe executiva. O sexo pelo sexo resume-se a uma função básica que se cumpre em poucos minutos. O sexo elaborado é outra coisa; é como entrar numa nave espacial, ultrapassar a velocidade da luz e pairar indefinidamente pelo cosmos.

Nem tudo o que dá trabalho também dá prazer e nem tudo o que dá prazer tem de dar trabalho, mas com o sexo, sem um não existe o outro. Para ser bem feito, requer tempo, devoção, técnica, talento e inspiração. Não é para despachar, é para cultivar. Não é para ir a correr, é para fazer devagar. E não é para quem quer receber, mas para quem sabe dar.

Uma amiga minha chama à prática cuidada e actos de prazer exercícios de amor. Dois corpos, mil gestos, um todo. Se o tempo pára mesmo ou os ponteiros invertem o seu sentido, isso nunca vi. Mas acredito, proclamo, professo e subscrevo que na cama, como em tantas outras coisas, o óptimo é inimigo do bom e quem já experimentou seda só volta ao algodão se não tiver outro remédio. Seda é seda. Tão bom como seda só veludo cristal. E o bom sexo tem esse toque, essa magia, esse je ne sais quoi de perfeição que a pele nunca esquece. Ainda que o desejo hiberne, a memória das células está lá, pronta para ser acordada ao primeiro gesto. E são muitas células a chamar para o mesmo lado.

O Bolero de Ravel não é das minhas peças sinfónicas preferidas, mas a sua arquitectura musical agrada-me: a mesma melodia vai sendo repetida languidamente à medida que cada instrumento entra na dança. O início é suave, pianíssimo, como uma canção de embalar, desenvolvendo-se em crescendo, até ao clímax, com a orquestra inteira em toda a sua pujança, terminando em fortíssimo. Em termos musicais chama--se um desenvolvimento amplificador.

O sexo bem executado pode ser isto, uma sucessão de pequenos gestos serenos e sincopados que vão formando um todo cada vez mais forte, cada vez mais intenso, cada vez mais belo. Não interessa tanto o que se faz, mas a maneira como se faz. O que prevalece não é o objectivo, mas tudo o que foi feito para o alcançar. Não há um fim, apenas uma pausa, porque nunca se fez tudo, ainda que o corpo sinta que foi muito longe, para lá da velocidade da luz, algures entre o Olimpo e o Nirvana, o ponto mais alto da meditação que dissolve o ego, no qual o ser consegue abandonar a solidão individual para se abandonar à entrega total.

A sensação de dissolução não tem preço nem explicação. É como o talento, que não tem culpa nem mérito. A prática de sexo de alta qualidade encerra uma sabedoria intuitiva que se vai cultivando com tempo e dedicação. E, se no meio de tudo isto, ainda houver amor, então chegamos ao Pleno, essa terra prometida entre o Olimpo e o Nirvana, que existe dentro de nós. Mas não basta querer, é preciso saber. E o Ravel é que sabia..."
http://sol.sapo.pt/Blogs/margaridarebelopinto/default.aspx

O que eu aprendi e que me leva a acreditar que - agora - pode ser diferente...

"Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira fase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.
Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades. Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.(...)
É como no amor. A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas - sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades - é o que distingue os seres humanos. O nascimento e a morte não têm valor - são os fados da animalidade. Procriar é bestial. O que é lindo é educar.
Estou um pouco farto de revolucionários. Sei do que falo porque eu próprio sou revolucionário. Como toda a gente. Mudo quando posso e, apesar dos meus princípios, não suporto a autoridade. (...)
Percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las deste destino é a coisas mais bonita que se fazer. Haverá verbo mais bonito do que «salvaguardar»? É fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. (...)
Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. Criar é fácil. As obras de arte criam-se como as galinhas. O difícil é continuar.(...)
Miguel Esteves Cardoso

domingo, 24 de janeiro de 2010

Queria dar-te colo, embalar-te no meu regaço e dizer-te baixinho que tudo está bem quando acaba bem...


"Queria dar-te colo, embalar-te no meu regaço e dizer-te baixinho que tudo está bem quando acaba bem. Queria adormecer essa tua inquietação, dar conta de todos os teus medos, decepar a loucura que desliza dentro de ti como uma enguia sem tino, com tamanha violência que quando sibila se ouve cá fora em redor, escoando-se pelos orifícios da tua pele. Queria garantir-te que, comigo por perto, nada ninguém nunca poderá fazer-te mal (...). Queria que percebesses que há entre nós um laço, mais do que um laço, um nó górdio, um amor complexo e irremediável, cheio de voltas e contravoltas, que ninguém poderá cortar com a sua espada, mesmo que especialmente desembainhada para o efeito. Sei que hoje nada sentes, ocupado que estás com a aritmética simples da sobrevivência, que estas palavras pouco te dizem, que tudo te parece um pesadelo e que não acreditas em mim no fim da linha, acho que a questão nem sequer te interessa. Mas um dia olharemos para trás e leremos os dois este texto premonitório, palavra por palavra, promessa por promessa, juro. E será exactamente como te disse, os dois rodeados de crianças e de bichos e de pólenes de primavera que o vento nos trará em contornando as montanhas. E então serás tu a embalar-me com o cinzento dos teus olhos e a tapares-me com o cobertor até cima, afugentando os meus fantasmas com a mão, vigorosamente, como se fossem apenas insectos incómodos (...)"
http://umamoratrevido.blogspot.com

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A alegria dos dias que correm...

“Parvos, andamos parvos (já ninguém nos aguenta). Esfregamos a felicidade na cara dos outros, esborratamo-los de impaciência, piedade e escárnio. Ele é meu querido para aqui meu amor pracoli e todos à nossa volta esbracejam e se afogam neste mar delicodoce, como se uma novela brasileira em que elas são fáceis e dengosas, ou como se um casalinho da Rinchoa que se abraça aos solavancos na carruagem da linha de Sintra, ela pra mais um dia de nariz enfiado nos calos das doutoras e ele, sem ocupação definida, mas acompanhando-a com esmero à porta do cabeleireiro, onde por fim e a custo a desenlaça. Amor, meu amor, bebé, minha princesa, e as pessoas à volta riem baixinho, que falta de senso, de decoro, a bem dizer já não são miúdos, pais de filhos ainda por cima, e nós aos beijos, melosos, molhados, babados, as línguas expostas que se enroscam desabridas, temos pena se têm nojo, se sentem inveja ou pudor (já ninguém nos atura). Alegres e amantíssimos, lastramos o carnaval pelos lugares por onde passamos e desfiamos um ror de carinho imenso, nas ruas, nos restaurantes, na cama, estarrecidos, aparvalhados com isto que nos aconteceu, quem sou eu que já não sou eu? Para onde foi o que me amargava os dias, já agora deixa-me ver se se esconde entre as tuas pernas ou no fim das tuas costas. Somos sem os demais e sem-vergonha, ignoramos quem nos interpela e fitamo-nos aparvalhados, desconfiados e à espreita: o que me dizem hoje os teus olhos que ontem não me disseram? (já ninguém pode connosco). Andamos de mãos dadas, prerrogativa de crianças e velhos, com dedos que se esfregam e apertam, não vá a gente perder-se, afastados por meio metro. Ou então abraçados, agarrados como lapas, tu a cobrires-me com os braços, os ombros, contigo todo, como se a monção estivesse pra vir e me fosse levar, para lá do pontão, para além do mar. Fazemos um grupinho à parte, desdizendo-os e mal-dizendo-os, a minha mão em concha na tua orelha e a minha boca escondida, que tanto te lambe o after-shave como arrasa as personalidades presentes, aquela ali é mesmo parva, não é? e aquele? um imbecil! (já ninguém nos suporta). Enjoativos e incómodos, num deleite infantil, respondemos torto e a más horas e achamo-nos o máximo, ancorando-nos na protecção do outro. Somos bons, somos os melhores, e estamos plenamente concentrados na arrogância superlativa do Amor, com tudo o que esta traz de kitsch, de excessivo, de deselegante. Respiramos um outro oxigénio, digerimos de maneira diferente, os nossos ossos têm diversa composição, a nossa pele desenvolve uma textura única e os nossos cabelos fomentam toques subversivos, revolucionários, invisíveis ao olho humano. O mundo é o nosso recreio (já ninguém nos convida para as festas).”
In http://umamoratrevido.blogspot.com

sábado, 16 de janeiro de 2010

Conheço gente assim...

"(...) Todos os grandes amores são invariavelmente trágicos, porque quem ama muito sofre sempre mais, como se amar mais implicasse sempre angústia, quer enquanto o vivemos plenamente e sentimos que o podemos perder, quer depois do amor, quando não queremos e nem sequer sabemos como encarar os dias. Há quem descreva o fim de um grande amor como uma derrocada, porque a sensação de não ficar pedra sobre pedra é a mais comum.
(...) A natureza mostra-nos que um animal só ataca quando está com fome ou ferido. É o medo que nos faz avançar, atacamos para não sermos atacados, enquanto lambemos as feridas na caverna. As mulheres choram com as amigas, os homens magoados embebedam-se e desenvolvem mecanismos de evasão fácil: a noite é propícia a equívocos e encontrões sexuais, o álcool e a droga emprestam uma sensação de leveza e amanhã é outro dia.
Um homem que não consegue amar vive encarcerado numa cela de solidão cuja chave se perdeu. É um homem diminuído porque até pode gostar de mulheres, mas não gosta das mulheres. Um homem com o ego ferido é como um leão com uma pata partida; ele não admite ajuda de ninguém e, quando se levanta, não quer que o vejam a coxear. Atacará por medo, por orgulho, por desespero. Voltando ao filme, o maior desespero do herói é a incapacidade de se entregar. Pior do que não ser amado é não ter capacidade para amar. A alma seca, como uma árvore morta.
(...)
Quanto tempo precisa,afinal, um homem para voltar a estar disponível para amar? Ninguém sabe, muito menos ele. A única coisa que todos sabemos é que amanhã é outro dia."
MRP in http://sol.sapo.pt/Blogs/margaridarebelopinto/default.aspx

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Por que já ninguém dança slow?!!

"Por que já ninguém dança slow? As pessoas ainda se apaixonam, os livros que contam histórias de amor continuam no top de vendas, as comédias românticas mantêm as plateias cheias e os meios modernos de comunicação virtual estão pejados de corações a bater e de flores a nascer. O amor continua a vender, na moda, nas campanhas de perfumes, nas séries da Fox e nas novelas. Parece que andamos todos à procura do mesmo – todos queremos amar e ser amados, todos sonhamos com momentos cinéfilos perfeitos, um a correr em direcção ao outro em câmara lenta num prado verdejante ou numa praia tropical, e a magia desses eternos clichés mantém o nosso coração fresco e em constante processo de reciclagem. Mas, então, por que passamos mais tempo a conversar por chat do que sentados no sofá ao lado uns dos outros, por que nos é cada vez mais fácil teclar ‘amo-te’ e mais difícil dizer a quatro olhos ‘gosto de ti’?

Devia ser formado um movimento mundial em favor da recuperação dessa brilhante instituição que é o slow. As pessoas deviam ser obrigadas por lei a dançar pelo menos um por semana, uma vacina contra a falta de graça do dia-a-dia cinzento. Cada país podia financiar campanhas publicitárias que apelassem à prática do mesmo com mensagens do género ‘um slow por dia dá saúde e alegria’. O mundo desacelerava um bocado, criava-se um dia para o slow, à semelhança da casual friday. E tenho quase a certeza de que seríamos todos mais felizes. Talvez mais ridículos, mas, no fim do dia, mais felizes."
Margarida Rebelo Pinto

Razões porque ando a escrever (muito) menos...

"Como é que se escreve a felicidade? Como é que digo sobre as minhas pernas enrodilhadas nas tuas, os meus dedos agentes inflitrados nos teus cabelos, a tua língua a pintar-me a boca a traços grossos? Para quê?, partilhar aqui que a minha pele se ri ao teu toque quente, como se estivesses sempre com febre, sentes-te bem? Quem quer saber?, do meu corpo armadilhado nos teus braços e dos meus olhos, que rebolam pelo quarto sem saberem para que parede devo atirar e deixar explodir o gozo, que não me cabe mais cá dentro. Como é que descrevo?, a impossibilidade teórica desta prática feroz de aprendizes, e as probabilidades disto tudo, que eram de um milhão para um, e que constavam do meu mapa astral, feito por uma colega de trabalho, da página dos signos na revista cor-de-rosa, que me aconselhava a ficar em casa, ou das previsões da dona são, a empregada doméstica que das duas às seis me agoirava o futuro, olhando de soslaio as minhas olheiras pisadas e achando, coitada, que eu já não tinha remédio. Como é que transmito?, que me apetece recato e cama, mãos agarradas e vozes baixas, por favor não me apertes tanto!, que a verdade é raquidiana e não apenas um acessório, e que escrevo melhor quando dói, desculpem-me a pobreza da sintaxe e a vontade de me ir embora, mas não posso fazer nada. Sim, como explicar?, que foste sorte, acaso, tiro às cegas, pim pam pum, a álea da vida em todo o seu esplendor, a desdenhar das incompatibilidades cósmicas, dos conselhos de dinheiro, amor e saúde (...), das minhas olheiras mastigadas e do agoiro triste da Dona São, que sabia tanto da vida mas nada do amor, a não ser do amor pelos filhos e por isso das duas às seis, a passar a roupa e a olhar-me com pena, as pernas negras garroteadas e as tonturas da diabetes. Como explicar?, que as coisas são simples, afinal, e que a dor não passa de um caminho de sentido obrigatório que não dá para atalhar, até um dia chegarmos a quem nos espera desde sempre?"
in http://umamoratrevido.blogspot.com/


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

"A felicidade está na cara das pessoas e o sorriso é um sinal que está a desaparecer"


Sabiam que a frequência e a intensidade da exibição do sorriso têm vindo a registar valores descendentes na última década?

De acordo com estudos recentes, as mulheres sorriem mais que os homens, independentemente da idade, os homens apresentam mais o sorriso superior a partir dos 60 anos e as crianças são as que apresentam mais e frequentemente o sorriso largo. Os resultados apontam para um diminuição significativa na exibição de qualquer tipo de sorriso e o aumento da expressão neutra em mulheres e homens. Verificou-se, também, que a expressão facial de emoções negativas é mais frequente e intensa do que a de emoções positivas.


"O sorriso é uma reacção neuropsicofisiológica que se desenvolve em situações que envolvam o bem-estar e a felicidade e quando tal não se verifica, por motivos externos, o sorriso é inibido e recalcado."

Será que, não obstante tudo o que temos à disposição, deixámos de saber como ser felizes?


Citações de Professor Freitas-Magalhães, "A expressividade do sorriso: estudo de caso em jornais diários portugueses", elaborado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UFP)

domingo, 3 de janeiro de 2010

A vida só se dá pra quem se deu

"Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"
Vinícius de Moraes

Por mais longa que seja a caminhada o mais importante é dar o primeiro passo...

"Se te não entregares, se me não abrires as tuas golden shares, se me não deres o teu domínio completo, garanto que te tomo todo o papel que conseguir arrebanhar. Bem te vejo volátil sempre a subir, a empurrares os índices. Bem sei o valor dos teus activos, há muito que acompanho a tua cotação e te adivinho o PER. Day trader inconsciente compro-te em alta para te vender em baixa. Encaixo as perdas colossais e na abertura do mercado lá estou eu a comprar-te mais uma vez, a abrir-te todas as posições, a torrar uma fortuna num espalhafato de ordens e comissões. Mas também espero os teus sinais de bullish para me manter deliciosamente long contigo. Também te sustento a força, enquanto te finco as unhas de olhos postos nas cotações quando te dá para o bear. Só depois me fecho, quase sempre sem estrondo nem alarde, a deitar contas à vida, a lamber as perdas, a renunciar aos teus dividendos. Mas agora sei que vai ser diferente. Fria e calma esmiúço e analiso-te tecnicamente. Verifico num rigor estocástico as médias móveis divergente e convergente. Releio o Principles of Security Analysis e convoco traders afamados, submeto-te aos mais elaborados sistemas e mergulho a fundo nos teus fundamentais. És a minha Monte Carlo blue chip e já te conheço de cor os suportes, os arrufos e os pontos de inversão, os amuos e as trends, as euforias, todas as brisas e mesmo as insignificantes oscilações. Sei que vai ser agora! As candlesticks, as bandas de Bollinger, o oscilador RSI e o meu insight dizem-me que é agora, que é chegado o momento. Levanto estão os stops, assanho-te todos os meus brockers e dou-lhes ordem para te caçar, não me importa a que preço. Eu própria vou à praça cobrir todas as ofertas! É bom que saibas que te lancei uma OPA e não há CMVM que te valha. Serás todo meu. Restar-te-á apenas decidir se me queres dócil ou se antes me vais querer hostil."
http://umamoratrevido.blogspot.com/

FELIZ ANO NOVO

"Escolher a Felicidade

Nem paz nem felicidade se recebem dos outros nem aos outros se dão. Está-se aqui tão sozinho como no nascer e no morrer; como de um modo geral no viver, em que a única companhia possível é a daquele Deus a um tempo imanente e transcendente e a dos que neles estão, a de seus santos. Felicidade ou paz nós as construímos ou destruímos: aqui o nosso livre-arbítrio supera a fatalidade do mundo físico e do mundo do proceder e toda a experiência que vamos fazendo, negativa mesmo para todos, a podemos transformar em positiva. Para o fazermos, se exige pouco, mas um pouco que é na realidade extremamente difícil e que não atingiremos nunca por nossas próprias forças: exige-se de nós, primacialmente, a humildade; a gratidão pelo que vem, como a de um ginasta pelo seu aparelho de exercício; a firmeza e a serenidade do capitão de navio em sua ponte, sabendo que o ata ao leme não a vontade de um rei, como nos Descobrimentos, mas a vontade de um rei de reis, revelada num servidor de servidores; finalmente, o entregar-se como uma criança a quem sabe o caminho. De qualquer forma, no fundo de tudo, o que há é um acto de decisão individual, um acto de escolha; posso ser, se tal me agradar, infeliz e inquieto."

Agostinho da Silva, in 'Textos e Ensaios Filosóficos'