"(...) Conhecemo-nos no vigor da juventude, onde tudo tinha uma força incalculável e onde a regra era: «querer é poder». E nós, (...), quisemo-nos como ninguém.
Hoje, com a distância higiénica necessária, posso afirmar, com toda a certeza, que te quis de uma forma assolapada. Sem regras. Sem eira, nem beira. Ainda sinto, nas veias, a ressaca do que foi querer-te naquela altura. E, como em todos os «quereres» dessa intensidade, o nosso amor tinha tudo para dar errado. (...) Juntos quisemos por à prova um dos provérbios mais antigos de que há memória: «Os opostos atraem-se».
Os nossos opostos atraíram-se de forma insana. (...) Éramos invencíveis. Nada nos detinha. (...)
Tudo era sentido de forma exagerada. (...) E foi no sentir que também me marcaste. Foste responsável por teres a primazia do toque. Contigo descobri que a pele também se arrepia por dentro, que os gemidos podem ser dados em surdina e que se pode fazer amor em qualquer lado. (...)
Mas, (...), os namoros também nunca acabam de forma serena. O nosso não foi exceção. Odiei-te. Odiei-te com a mesma força com que te amei. Odiei-te para sempre, porque me tinha jurado que também era para sempre que te amaria. Separámo-nos. (...) E, assim, as nossas vidas não se voltaram a cruzar. (...)
Depois de alguns escassos contactos, durante estes anos todos, hoje voltei a reencontrar-te. Tropecei em ti, por acaso, na net. (...) a urgência voltou. Não aquela mesma urgência de pegar no carro e desaparecer durante três dias. Não. (...)É uma urgência diferente. É uma urgência em confirmar que, mesmo tendo tudo para dar errado, os amores (...) nunca são um erro. São um marco. (...)"