"Não teres tempo para o meu atrevimento sempre foi teu apanágio e a minha salvação. O que sinto por ti é como ter contraído malária: o bicho está cá dentro e volta e meia manifesta-se, apesar dos cuidados profiláticos que faço questão de ter, antes de cada viagem. Aliás, a profilaxia induz, ela própria, sintomas ligeiros da doença que é suposto prevenir e é por essa razão que as cautelas e os caldos de galinha, que engulo a horas certas, não me evitam suores frios, febres súbitas e tremuras, face à hipótese remota da tua presença no meu metro quadrado."
"(...) E eu quero saber tudo: quantas noites em claro, quantas outras esqueceste, que fantasias tiveste, apenas por pensares em mim, mesmo que tenhas pensado pouco. Não vale mentir, caso em que terás tarefas cronometradas e difíceis de cumprir, praticamente impossíveis, como ocupares-te de todos os recantos do meu corpo com a inevitabilidade apertada da hora de ponta e depois deixares-me ir. Dizes-me que a verdade é preferível, não é por mais nada, mas apenas porque, depois, não conseguirias deixar-me ir, e eu sorrio porque sei que mentes e apetece-me dar-te uma ordem ainda mais irrealista, sei lá, por exemplo, atira-te ao rio. Finjo que acredito e continuo a tentar saber-te: o que te apetece dizer nos instantes em que nos despedimos, se ainda me cobiças os lábios pelo canto do olho e se já esqueceste o meu cheiro. Quero saber do que não me chegaste a escrever (...) a nossa história de sempre (...)"
in http://umamoratrevido.blogspot.com/
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