"Pode haver um momento em que uma relação baseada no conforto, no prazer a na companhia se transforma numa relação de amor?
Se me questionasse sobre isto há uma década, naquela fase arrebatadora das paixões obsessivas que atravessam os vinte e os trinta, responderia peremptoriamente que não. Atiraria para a mesa um daqueles meus clichés dos quais uso e abuso, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e defenderia a teoria da imutabilidade na natureza amorosa que dita a tirania dos sentimentos: o tudo ou o nada, o grande amor versus uma enfatuação inconsequente, a paixão arrebatadora versus uma companhia morna, um amor perfeito contra uma segunda escolha.
Na verdade, não existem amores perfeitos; existem relações com mais ou menos momentos perfeitos. (...) Hoje, acredito que o verdadeiro amor é o oposto de tudo isto.
A realidade suplanta a idealização, ainda que esta persista no nosso imaginário e nos faça tanta falta. O dia-a-dia de uma relação construída com leveza e verdade vale mais do que qualquer projecção de um romance perfeito em HD; a entreajuda nos momentos mais críticos e a confiança plena naquela pessoa, na sua integridade e no seu carácter são aspectos bem mais decisivos do que a cor dos olhos ou os zeros à direita no saldo bancário. Mais do que sonhar e idealizar, numa relação amorosa plena, amar é construir, partilhar, ouvir, respeitar, dar espaço quando é preciso, pedir sem cobrar e saber que o outro está ali por nós e para nós, não só pelas qualidades que temos, mas também porque sabe viver com os nossos defeitos. O verdadeiro Príncipe Encantado não precisa de se apresentar de cavalo branco nem de exibir o mapa de um reino encantado com um castelo gigante; basta que nos traga o coração nas mãos e a vontade de ficar, de construir, de nos querer bem e de sonhar, sem lentes que distorçam a realidade, nem medo de ser feliz."
in http://sol.sapo.pt/blogs/margaridarebelopinto/default.aspx
in http://sol.sapo.pt/blogs/margaridarebelopinto/default.aspx
Sem comentários:
Enviar um comentário