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" (...) Os meus amigos sabem tudo (...) sobre mim. Mais,
sabem que ando sempre a correr atrás de alguma coisa e que, por isso, pode passar muito tempo entre os nossos encontros. Também eles andam a correr atrás de alguma coisa. Havemos de marcar um almoço, havemos de marcar um café, repetimos a acreditar que vai ser assim. Sentimos falta, mas habituámo-nos a ela. Quando, finalmente, estamos no mesmo lugar, somos desconhecidos para os filhos uns dos outros que, entretanto, cresceram bastante. Então, temos muito para contar, actualizações antigas que nos mostram o verdadeiro tamanho do tempo que passou. Mas o à-vontade mantém-se intacto.
Porque os meus amigos não são aqueles para quem fui tudo até ao momento em que passei a ser nada, não são aqueles que me abandonaram quando deixei de lhes ser útil, os meus amigos não são aqueles com quem partilhei segredos e que, anos mais tarde, quando nos cruzamos por acaso, nem sei se hei-de cumprimentá-los."
in
José Luís Peixoto (negrito meu)