terça-feira, 13 de outubro de 2009

SOU NOVAMENTE DONA DA MINHA ALMA...

"Afinal, consegui esquecer-te. Não foi assim tão difícil, já te esquecera várias vezes, nunca o suficiente, eu sei, mas mesmo assim chutei-te para canto, deixaste de fazer parte dos meus dias, acordo e não penso em ti, adormeço sem a tua imagem a dançar-me, demoníaca, diante dos olhos. (...) O gato da Alice foi-se embora, já não aparece quando quer nem desaparece quando lhe apetece, sou outra vez dona da minha realidade. (...)
Queria acreditar que te esqueceria quando alguém finalmente ocupasse o teu lugar. Mas o coração não é um motor, não lhe podes trocar peças, tirar aquela porque emperrou e substituir por esta só porque o faz mais feliz. Ainda tentei esse método, não resultou, encostei à box, ri-me outra vez de mim e descontraí. E como reza a história, foi quando desisti de lutar que venci.
O gato nunca mais apareceu, talvez tenha finalmente percebido que a Alice já não mora aqui. A confusão é o início de uma nova realidade e percebi que sou muito mais feliz num jardim sem gatos pendurados nas árvores, nem coelhos apressados que atiram pessoas para o poço no fundo do qual há uma porta fechada, uma maçaneta que fala e poções que nos fazem ficar ou pequenos ou maiores, consoante o número de gotas.
Agora sou outra vez dona da minha casa e na minha alma vive outro herói que não se pendura nas árvores nem no coração, não desaparece, nem troça de mim. Matei a Alice e o gato foi-se embora. Quem sabe, a esta hora, não estará pendurado em qualquer lado a pensar com as suas listas porque é a Alice mudou a história. É que quando o bule de chá explode, nada mais volta a ser igual."

Crónica, Alice já não mora aqui, publicado na Máxima, em Outubro de 2009

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