Esse meu amigo esteve presente em (quase) todos os momentos importantes da minha vida e, por isso, mora num dos lugares mais especiais do meu coração.
Hoje apercebi-me que o inverso foi deixando de acontecer. Na última década, não estive presente em (nenhum) momento importante da vida dele. Não partilhou comigo as alegrias, não desabafou as tristezas, não me incluiu sequer nas comemorações de aniversários (actualmente trocamos os sms que a cortesia obriga).
Este meu amigo, na adolescência, brincava comigo porque eu afirmava convictamente que não tratava os meus conhecidos/amigos todos de igual forma. Gozava com o facto de eu ter uma "escala" onde colocava os meus amigos, tratando-os de acordo com o grau em que estavam. E ele era um dos mais bem colocados!
Sim, tenho uma "escala" para o meu relacionamento com os outros! Obviamente que não posso tratar da mesma forma quem me trata com carinho e preocupação e aqueles que se lembram de mim se (e quando) necessitam. Para mim é uma evidência (desde que me lembro de ser gente): os amigos não são todos iguais e há que tratá-los com a deferência que - a cada momento - merecem.
Hoje percebi que esse meu amigo, já não é um amigo. É uma lembrança, um carinho que faz com que permaneça no meu coração e, muitas vezes, no meu pensamento.
Constatei, tristemente, que lembrança é passado e amigo é quem nos acompanha no presente.
Como diz Miguel Esteves Cardoso: "O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. (...)O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo."
E o tempo passou por nós e pela nossa amizade...
Ao olhar para o programa de televisão tive (muitas) saudades, mas também me questionei se não tinha deixado tempo a mais o meu coração ocupado por uma amizade inexistente.
É que - e tenho de citar novamente o MEC - "Não se pode ter muitos amigos. Mesmo que se queira, mesmo que se conheçam pessoas de quem apetece ser amiga, não se pode ter muitos amigos. Ou melhor: nunca se pode ser bom amigo de muitas pessoas. Ou melhor: amigo. A preocupação da alma e a ocupação do espaço, o tempo que se pode passar e a atenção que se pode dar — todas estas coisas são finitas e têm de ser partilhadas. Não chegam para mais de um, dois, três, quatro, cinco amigos. É preciso saber partilhar o que temos com eles e não se pode dividir uma coisa já de si pequena (nós) por muitas pessoas."
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